As muralhas eram imponentes. Eram feitas de pedra lisa o que as tornava impossiveis de escalar. Notava-se que Sunaris era uma aldeia rica e desenvolvida, ou pelo menos fora. Quando Tea e os nossos guerreiros se aproximavam do portão principal, uma lança espetou-se no chão mesmo em frente a eles:
- Alto. Quem sois vós?
Tea deu um passo em frente e disse:
- Sou Tea, abram imediatamente.
Três cabeças surgiram por cima da muralha, e apesar de estarem longe, os guerreiros notaram que eles estavam com a boca aberta de espanto. Com um barulho ruidoso, o portão principal foi aberto.
Tea e os guerreiros entraram na aldeia e foram recebidos em festa pelos populares. Ouviam-se risos de contentamento e palmas, até que se ouviu a voz de alguém a tentar passar por entre a multidão. Era Huth, o chefe dos guardas.
- Menina Tea, venha comigo, temos muito que falar.
Huth era um homem atarracado. Apesar de baixo, era extremamente largo, e a sua pele morena e voz grossa incutiam respeito. Não era homem de se preocupar desnecessariamente, mas o ar preocupado dele, fez com que Tea o seguisse. Os nossos guerreiros foram atrás dela.
Foram em direcção do salão da aldeia, que era onde faziam as reuniões. Quando os nossos guerreiros se preparavam para entrar, Huth desembainhou a espada:
- Quem são estes? - disse ele apontando a espada para os guerreiros, sem olhar para eles - Basta uma palavra tua e eu mato-os.
Rjck reparou que Rufus já estava pronto para iniciar uma zaragata, e foi acalmar o amigo, enquanto Tea explicou:
- São meus amigos, foram eles que me salvaram. Se não fosse Rjck - disse ela apontando para o guerreiro nórdico - não sei onde estaria. Talvez estivesse morta.
Huth guardou a espada, e fez um sinal de agradecimento. Então disse:
- Venham também ouvir, que toda e qualquer ajuda é bem vinda.
Entraram no enorme salão. Era uma sala grande e fria. Sentaram-se à enorme mesa e Tea perguntou:
- O que se passa? Porque está tudo destruído lá fora? Nesta altura a aldeia deveria estar toda enfeitada. Veio alguma peste?
Huth começou então o relato.
O tio de Tea, Morbius, senhor de Lundae, aproveitou a ausência do pai de Tea para lançar um ataque contra Sunaris. Ignorou os anos de paz e espalhou o terror pela região. Como não tinha homens suficientes para colocar em cheque Sunaris, contratou um bando de gladiadores para os ajudar. Como não conseguiram conquistar Sunaris, então vingaram-se dos sentinelas e dos donos das quintas da periferia da aldeia. Mataram todos de uma maneira horrível.
Mithia, a velha curandeira de Sunaris que estava a assistir um parto, foi violada pelos gladiadores vezes e vezes sem conta até à morte. A maioria dos lavradores foi espancado pelos manguais (que são umas correntes com uma enorme bola de ferro com pregos na ponta) e os que tinham a sorte de morrer, eram enterrados, os que não morriam eram deixados a morrer. Huth continuou com o relato de horror durante largos minutos, sem que ninguém o interrompesse. Contou que o exército de Lundae matava todos os homens da casa e obrigava as crianças a fazerem uma espécie de jogo em que tinham que atirar a cabeça uns aos outros e que quem a deixasse cair, lhe cortavam uma mão. Bebés foram atirados para as rochas, mães tinham que optar qual filho morria com a espada e qual filho morria pelo fogo.
Tea estava em lágrimas. Ela não podia acreditar que o tio tivesse sido capaz de uma coisa daquelas. Huth disse:
- Tivemos que assistir aquele espectaculo macabro das muralhas. Se tivessemos ido, eles matavam-nos a todos e conquistariam Sunaris. Morbius diz que vai lançar o ataque final daqui a alguns dias. Disse que o seu pai tinha morrido devido a uma tempestade no alto mar. Estamos perdidos menina, vai ser o fim de Sunaris.
Rjck cheio de raiva, tentou ser racional e disse:
- Quantos somos? Não contei mais de dez guardas. Presumo que sejamos mais.
Huth disse:
- Somos cerca de quarenta homens, era o suficiente, nós viviamos em paz. Perdemos os sentinelas todos. Eles devem ser perto de mil.
Um grande desânimo abateu-se sobre aquela sala.
- Porque é que eles não tentaram conquistar a aldeia?
Tea respondeu:
- Eles não querem conquistar a aldeia, querem destruir-nos. Querem guerra no mesmo dia em que a paz foi conquistada. Daqui a dez dias.
- Então é guerra que vão ter.
Os nossos guerreiros foram explorar a aldeia, tinham muito trabalho a fazer!